domingo, 18 de março de 2012

A amizade é um passeio de bicicleta

Cada pessoa que passa  em nossa  vida é única. Sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.Duas almas não se encontram por acaso.



Como em uma grande corrida, damos a largada em busca de nossa lenda pessoal. Ao percorrermos caminhos em comum, encontramos pessoas e situações únicas, que deixam boas lembranças e marcas, trazendo felicidade, reduzindo o sofrimento do cansaço ou de uma queda, simplesmente compartilhando com a nossa dor. Algo simples, uma predisposição natural que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.
E como crianças em um bom passeio de bicicleta, ansiamos pela permanência desses pequenos acontecimentos. Tiramos fotografias, mandamos recadinhos, enrolamos para ir embora, tomamos um sorvete, pedimos pra ficar mais, nos despedimos várias vezes antes de partir e prometemos nos falarmos mais tarde. Repetimos pequenos rituais quando sentimos aquela camaradagem gostosa, aquele entusiasmo doce e  infantil.
Mas como em toda corrida, estamos juntos e dispostos na largada e à medida que ela se desenvolve, a alegria e o entusiasmo cedem lugar aos desafios: a sede, o cansaço, a monotonia, as dúvidas tomam conta de nossas vidas e o passeio de bicicleta se transforma em competição olímpica, as crianças que brincavam despreocupadamente se transformam em atletas dos quais se esperam alto grau de desempenho.
Reparamos então que alguns amigos  caíram, outros se perderam ou simplesmente desistiram de correr. Como seres únicos que somos, temos resistências diferentes, uns sofrem mais que outros, outros continuam pedalando, às vezes somente porque sabem que não podem parar no meio de uma estrada, enquanto outros estão focados, já não respondem mais nossos chamados, pois acreditam que no fim, tanto esforço valerá a pena.Uns cumprem uma obrigação, pedalando próximos a um carro de apoio, outros estão sozinhos e fortes e ainda outros que não pedalam por temer a queda.
Enquanto os vencedores da corrida cruzam a linha de chegada, outros estão simplesmente dando a largada. O mais incrível, que nem mesmo o mais lustroso e almejado troféu, será guardado com a mesma preciosidade daqueles inocentes e vagarosos passeios de bicicleta, que sempre acabavam tão rápido.
E essas pessoas que encontramos em  passeios ou corridas são únicas, com suas próprias trilhas ou estradas e que no fim, temos de nos despedir e somos obrigados a lidar com as retas e curvas de nosso próprio caminho, muitas vezes sozinhos, sob sol escaldante, sob uma chuva forte, ou por paisagens deslumbrantes e brisas calmas.Não sabemos ao certo se tanto esforço vale a pena, mas seguimos em frente.Somos agora não mais crianças passeando, mas adultos correndo.Muitos passeios e corridas estão por vir. E não por acaso, muitos amigos encontraremos por eles.
A todos os meus amigos, do passado, presente e futuro. Lindos passeios e força na corrida!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Fortes e fracos, como dentes-de-leão.


Em tempos de combate à sacola plástica em supermercados, de produtos orgânicos e reciclados, do mais puro e perfeito politicamente correto, por que  será que o respeito às pessoas, à integridade humana , principalmente em escolas e em ambientes de trabalho permanece curiosamente muito alheio ao debate público?
São muitos os ditos populares que glorificam a força, os fortes, os bem – sucedidos.Todos  já devem ter ouvido pelo menos um  “olho por olho, dente por dente” , ou “o  mundo é dos fortes”,  e sei lá mais quantas outras balelas e crendices sem  fundamento...como se o desespero fosse um acaso, que atinge um ou outro, um fraco, um golpe do destino, uma fatalidade.
Será que é mesmo verdade? Será que somos uma coisa ou outra? Ou que temos dias de glória e em outros estamos enfraquecidos?Quem vai dizer o que é verdade? O que fazer ao se sentir desrespeitado? Devemos consentir? Devemos reagir? Devemos ignorar ou ao menos fingir ignorar? Devemos deixar “baixar a poeira?Ou devemos deixar ou sangue subir?
Nesse mundo em que tudo temos nada temos. Falta modelo, falta norte, falta educação...e não daquela que recebemos  ao longo da vida acadêmica, em cursos de aperfeiçoamento, no inglês, no 3d, no kumon! Aquela educação genuína, que vem  da consciência coletiva, do saber o certo e o errado, o de não fazer com o outro o que não gostaríamos que fizéssemos conosco.
Somos fortes e somos frágeis, tais como dentes-de-leão, uma planta delicada, que provavelmente um dia você já assoprou. Assim como nós, está em quase todo o mundo, nos prados e relvados, bermas das estradas e caminhos, terrenos baldios, nos jardins urbanos... Tem grande poder de cura e raízes fortes e antes de se desfazer ao vento, lembra a imagem de um valente leão e sua juba.
E, tais como dentes-de-leão, nos abrimos ao sol, e respondemos com alegria à luz do dia, à receptividade, ao sorriso, ao respeito. No entanto, quando o clima é sombrio, ofensivo, hostil, somos abatidos, amarelamos e nos desligamos.Morremos um pouquinho por dentro.E pra que levar escuridão se podemos esbanjar raios de sol?
È pra se pensar.