E foi dia namorados! Não tive
como não pensar no assunto, presa por 4 horas em um shopping devido ao rodízio
do meu carro, em plena véspera do dia dedicado aos casais apaixonados. Eu, hoje
solteira, aos 28 anos, já estive do lado de “lá”, escolhendo presentinhos, feliz
por estar acompanhada ou “morta” de saudades, cheia de planos em relação a isto
ou aquilo, ainda que uma vez no ano.
Hoje, do lado de “cá”, sem querer
querendo, parei pra pensar sobre tudo isso, sem pretensão, sem julgamentos, sem
vergonha. Afinal, como ser mulher, feliz e plena, sozinha ou acompanhada, em
tempos que nossos instintos naturais são cada vez mais domesticados e a alma
feminina sufocada?
Ao contrário de nossas mãe e
avós, conquistamos de fato espaço no mercado de trabalho e com isso nos tornamos
mais frias e objetivas. Algumas de nós, com certeza nos masculinizamos para nos
impor. Sabemos administrar, fazer tudo ao mesmo tempo. Somos fortes, somos
chefes, somos rainhas de nós mesmas.
Essas conquistas foram sim,
positivas. Mas é uma luta em meio a uma batalha que ainda continua.
Ao mesmo
tempo em que ganhamos “poder”, no sentido comumente entendido, perdemos contato
com nossa psique instintiva e os poderes naturais à mulher. Sim, nossos
instintos e ciclos naturais estão perdidos, pois estamos subordinadas a um
mundo masculino. A cultura, o intelecto e nosso próprio ego, assim como nos
fazem rainhas, nos fazem reféns de nós mesmas.
O mundo mudou, nós mudamos e
certamente não sabemos que fazer. Eu, que tenho como um dos passatempos
favoritos, a sorte de ouvir histórias de todos os tipos de amigas; solteiras,
casadas, apaixonadas, em crise, de todos os graus de relacionamento e independência,
confirmo: acabamos perdendo o referencial de interdependência, que é fundamental
onde houver vida.
E eu, depois de tanto pensar no
assunto, proponho apenas que um pensamento tranquilo nos envolva:
experimentemos e expressemos o ser mulher, criemos vida, seja uma planta, um
cachorrinho, uma arte ou um bebê. Pintemos, bordemos, escrevemos, dancemos,
pensemos, rezemos. Façamos arte. Sejamos arte, mais viscerais que cerebrais.
Ocupemos nosso corpo com segurança e orgulho, independente de cobranças
externas e de limitações. Falemos e agimos de acordo com nossos pressentimentos
e intuições. Sejamos fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão e da poesia.
Dependendo do ponto de vista, em
dias masculinos e combativos, pode soar como ofensa, mas não vejo dessa forma
quando o poeta diz :
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Não fomos feitas para sermos
mesquinhas, frágeis e incapazes de criar vida. Somos feitas para encontrar,
libertar e amar. Escutemos nossa alma, a voz que diz “Por aqui”. “Aqui” sua
alma estará em boa companhia: você, de verdade.
A todas, sozinhas e acompanhadas,
um feliz dia dos namorados!
Luana